quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A menina, a borboleta e o lepidóptero.

[Ferdinando Scianna]




Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama: "Olha uma borboleta!". O crítico ajusta os nasóculos e , ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: - Ah,!, sim, um lepidóptero...

Mário Quitana.


Porque às vezes uma borboleta é só uma borboleta, uma barata pode não ser uma referência a Kafka. E buscar um significado onde não tem, muitas vezes pode fazer uma obra perder seu sentido original. O autor de qualquer tipo de obra expressa seus sentimentos e pensamentos, que podem até ter significados ocultos, mas a obra é pra ser sentida, entendida, e não esmiuçada à exaustão, senão a borboleta acaba virando mesmo apenas um lepidóptero.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Blablablablabla


De vez em quando cansamos da nossa vida, do que fazemos, das pessoas, enfim, do mundo. Dá vontade de jogar tudo pro alto e começar do zero, mas o que realmente gostamos. Dá vontade de sumir, cortar relações com metade das pessoas que conhecemos, e conhecer pessoas novas, mais interessantes, mais parecidas, simplesmente pra ter com quem conversar.
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Cinema brasileiro é arte. Não, eu não vivo em um mundo paralelo.
Cinema brasileiro não se resume a filmes da Xuxa, Didi, Trapalhões, Angélica, Eliana, Bruna Surfistinha ou afins. Filme bom não é só sobre favela ou nordeste, são excelentes, mas não são os únicos que existem.
Essa visão é fruto de uma mídia que cultua novelas em que favelas são apagadas da cidade para não "enfeiar" a imagem, em que mostra a realidade deturpada para agradar uma alta sociedade, muitas vezes falida, ou sem conteúdo, e para iludir as classes mais humildes de que seu único objetivo na vida deve ser se tornar semelhante a classe média/alta que aparecem como se pertencessem a um conto de fadas.
Mas a culpa não é só dessa mídia. É da sociedade como um todo. Tudo vira produto, nada é sério, tudo deve ser explorado até o último centavo ser ganho, mesmo que isso signifique atrofiar uma arte, uma cultura, com um potencial reconhecido em muito lugares, mas não pelas pessoas mais próximas.

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Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.

Paulo Leminsk

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Problemas...

[Martine Franck]


Bem no Fundo


No fundo, no fundo,

bem lá no fundo,

a gente gostaria de ver nossos problemas

resolvidos por decreto



a partir desta data,

aquela mágoa sem remédio

é considerada nula

e sobre ela — silêncio perpétuo



extinto por lei todo o remorso,

maldito seja que olhas pra trás,

lá pra trás não há nada,

e nada mais



mas problemas não se resolvem,

problemas têm família grande,

e aos domingos saem todos a passear

o problema, sua senhora

e outros pequenos probleminhas.

Paulo Leminsk.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Procurados.

A Inspiração foi viajar junto com a Paciência, e a Criatividade.
Não deram notícias, simplesmente mandaram um cartão-postal escrito: "Fomos esfriar a cabeça, voltaremos quando estivermos prontas".
Acontece que as três juntas vigiavam o Mal-humor e o Desânimo, que ficavam trancados em uma sala no porão sendo alimentados periodicamente e entretidos, e sem as três por perto não havia ninguém para levar os pratos de comida e trocar os jogos para que ambos não enjoassem.
Depois de alguns dias as coisas saíram do controle e o Mal-humor e o Desânimo escaparam do porão; a polícia emitiu um alerta para que as pessoas tomem cuidado ao sair de casa e informou que está efetuando uma busca, e espera capturar os dois o quanto antes; Inspiração, Paciência e Criatividade foram intimadas a comparecer ao tribunal para responderem um processo por negligência e pôr em risco a vida de cidadãos inocentes que habitam as proximidades de sua residência.
É importante ressaltar que Mal-humor e Desânimo são perigosos e armados.